Na noite de 5 para 6 de Janeiro cumpre-se em Alenquer a tradição com que se fecham as “Festas” – o “Cantar e Pintar os Reis”!
Esta tradição profana junta em cada localidade um grupo de “#reiseiros”, uns que pintam e outros que cantam. Os primeiros seguem à frente para pintar as fachadas e muros de casas e estabelecimentos. Seguem-se, em maior número, os “cantores-reiseiros”: um coro, tradicionalmente de homens, liderados pelo “apontador”.
A hierarquia dos grupos é de uma ancestralidade iniciática, com a passagem de testemunho de velhos para os mais novos e com indisfarçável orgulho de pais para filhos.
Mas o que pintam e cantam os “reiseiros”?
Comecemos pelas pinturas que são evidentes nas paredes de localidades como Ota, Olhalvo, Abrigada e outras povoações de Alenquer. São feitas a 2 cores: encarnado e azul e com motivos simbólicos:
- Corações e vasos com ramos floridos que representam as famílias e a felicidade familiar;
- Referências profissionais às atividades da casa, ou dos estabelecimentos, por vezes com o recurso à sátira;
- Estrelas e outros símbolos em referência aos “Reis Magos”
- Votos de bom ano na expressão “Bons Reis” ou B.R seguido do ano em causa
- Desenhos emoldurados com pontinhos cujo significado está já disperso, mas apontado por alguns estudiosos como referência às sementes e votos de prosperidade agrícola, muito comuns em comunidades rurais
Os desenhos, simbologias e tradições têm nuances de localidade para localidade, e o mesmo se passa com os cantares.
O “apontador” é o solista que dá a voz de comando e que lança os versos ao coro que os repete e segue a letra da cantiga. Estes cânticos inspiram-se no relato bíblico de Mateus dos “3 Reis Magos” e de Lucas sobre o “nascimento de Jesus” e cruzam ainda outras referências profanas.
A passagem oral da tradição introduziu corruptelas de linguagem e de interpretação, nomeadamente na confusão entre Belém na Judeia, e Belém em Lisboa que levou à introdução do imaginário das viagens marítimas mais próximas da vivência portuguesa.
À tradição pintada e cantada acresce o convívio em algumas casas e adegas com mesa posta para os reiseiros.
De salientar que esta tradição já esteve muito perto de se extinguir mas como contraponto a um mundo global cada vez mais indiferenciado, parece haver, inclusivamente junto dos mais jovens uma vontade de valorizar esta iconografia identitária e diferenciadora.
Acreditamos que sobretudo do ponto de vista gráfico estamos perante uma estética diferenciadora que é uma mais valia para as Marcas do concelho. A minha marca profissional, o projeto Alqueire da Terra e até uma coligação política local – Fazer Cumprir Alenquer são algumas das que se renderam a esta estética tão única e assente na #EssênciaDePortugal
#MagsFinalTouch: O Município de Alenquer publicou em 2016 o Livro “O Pinta e Cantar dos Reis no Concelho de Alenquer” que se encontra à venda no Museu Damião de Góis” e disponível online aqui, edição da qual retirámos algumas das fotos que ilustram este artigo
#BemeQuerAlenquer #D_aquémEAlenquer #ViverAlenquer #MarcasPortuguesas